Historia do mangá parte 1

Historia do mangá

Historia do mangá parte 1

 

O objetivo deste trabalho é fornecer uma visão geral sobre a origem dos quadrinhos japoneses, conhecidos como “mangá”, suas conexões com a antiga arte sequencial japonesa e sua influência atual no Ocidente. A escolha desse tema foi motivada não apenas pelo meu interesse pessoal em mangás e animes, que profundamente influenciaram minha própria forma de desenhar, mas também pela escassez de estudos abrangentes sobre o assunto. O fenômeno da popularização dos mangás e animes muitas vezes obscurece suas raízes culturais e artísticas, reduzindo-os a meros produtos da indústria do entretenimento.

A pesquisa teve como base teórica o livro “Mangá: O Poder dos Quadrinhos Japoneses”, de Sonya Bibe Luyten, que permitiu traçar uma linha do tempo desde os primórdios da arte narrativa visual japonesa até o mangá contemporâneo. Utilizamos uma abordagem semiótica, comparando reproduções de antigas gravuras e pinturas japonesas com imagens de animes e mangás modernos, buscando evidenciar as influências e vestígios da cultura japonesa antiga. Além disso, foram feitas comparações entre as imagens coletadas na produção de quadrinhos, desenhos animados e outras formas de entretenimento produzidas no Ocidente, demonstrando a influência exercida após o contato com a estética dos mangás.

Além dos aspectos visuais e narrativos, também exploramos a influência dos mangás no comportamento dos seus apreciadores no Ocidente. Como parte essencial do estudo, abordamos a chegada dos mangás ao Brasil, destacando desenhistas brasileiros influenciados pela estética japonesa, bem como o crescente interesse da geração mais jovem pelo mangá.

Por fim, esta pesquisa buscou analisar em que medida a essência original dos mangás se mantém presente durante o processo de transposição para o Ocidente.

Capítulo 1: Os Antecessores do Mangá na Arte Japonesa

O termo “mangá” refere-se aos quadrinhos japoneses e ao estilo de desenho associado a eles. Quando os mangás são adaptados para a forma de desenho animado, são chamados de “anime”, derivado do termo em inglês “animation” (animação).

O surgimento dos mangás no Japão está intimamente relacionado à influência dos quadrinhos ocidentais, mas também possui uma ligação com a arte sequencial japonesa ao longo dos séculos. Essa arte incorpora elementos da cultura antiga japonesa nos mangás atuais, conforme evidenciado por Sonya Bibe Luyten em seu livro “Mangá: O Poder dos Quadrinhos Japoneses”.

A antiga cultura japonesa foi profundamente influenciada pela China, especialmente no que diz respeito ao cultivo do arroz, sistema de escrita, religião (budismo) e ideologia (confucionismo), bem como nas artes. Entre os séculos VI e VII, houve uma disseminação gradual do budismo no Japão, resultando na construção de numerosos templos em todo o país. Nestes templos, foram encontrados os primeiros exemplares dos chamados “Ê-Makimono”.

Os Ê-Makimono foram desenhos descobertos durante obras de reparos nos templos de “Toshodaiji” e “Horyuji” em 1935. Esses desenhos, feitos com tinta e pincel, retratavam pessoas e animais de forma exagerada, com características eróticas. Trata-se dos exemplos mais antigos da caricatura japonesa, sendo populares nos séculos XI e XII. Osamu Tezuka, considerado o criador do mangá moderno, mencionou a popularidade desses rolos, que contavam histórias à medida que eram desenrolados pelo leitor.

Um exemplo notável dessas obras é o conjunto de rolos chamado “Choujiga”, criado pelo bonzo Kakuyu Toba (1053-1140). Esses rolos apresentam animais antropomorfizados, como coelhos, macacos e raposas, satirizando a sociedade da época. Kakuyu Toba é comparado a Walt Disney pelos japoneses, mas com oito séculos de antecedência. Essa obra é considerada um clássico da arte japonesa, reconhecida tanto pelo humor quanto pela técnica refinada com que foi produzida.

Segunda parte