Mickey 17: Entre a Ficção e a Reflexão Social
O filme Mickey 17, dirigido por Bong Joon-ho, é uma adaptação do livro Mickey7, escrito por Edward Ashton. Embora ambos compartilhem a premissa central—um protagonista que é um “descartável” em uma missão de colonização espacial—o filme e o livro apresentam abordagens distintas, especialmente no que diz respeito ao viés político e à construção do personagem principal.
A Diferença Entre o Livro e o Filme
No livro, Mickey é um personagem mais intelectual, um historiador que observa e reflete sobre sua condição. Já no filme, Bong Joon-ho transforma Mickey em um símbolo da classe trabalhadora, enfatizando a exploração do indivíduo em um sistema que exige sacrifícios diários para a sobrevivência. Essa mudança reflete a tendência do diretor de abordar temas sociais e políticos em suas obras, como já visto em Parasita.
Enquanto Ashton foca na experiência pessoal de Mickey e na questão da identidade—o que significa ser substituído repetidamente e ainda assim manter uma essência própria—Bong Joon-ho amplia essa discussão para um contexto mais universal, questionando a estrutura social e econômica que perpetua desigualdades. O filme, portanto, não apenas adapta a história, mas a transforma em uma crítica social mais explícita.
O Viés Político no Filme
Bong Joon-ho enfatiza que queria que Mickey 17 fosse uma história atemporal, que levasse o público a refletir sobre a sociedade em que vivemos. Ele evita focar em eventos específicos, preferindo explorar padrões históricos de exploração e desigualdade que continuam a se repetir. A ideia de um trabalhador que precisa morrer todos os dias para cumprir sua função é uma metáfora poderosa sobre a precarização do trabalho e a alienação do indivíduo dentro de sistemas opressores.
Uma História de Sobrevivência e Questionamento Social
Mickey 17 e Mickey7 compartilham a mesma premissa, mas seguem caminhos distintos. O livro de Edward Ashton explora a identidade e a sobrevivência em um contexto de ficção científica, enquanto o filme de Bong Joon-ho transforma essa narrativa em uma crítica social contundente. A adaptação não apenas altera detalhes da história, mas redefine sua mensagem, tornando-a mais relevante para debates contemporâneos sobre trabalho, tecnologia e desigualdade.